Esta semana participei da reunião escolar da minha filha. Fui interessada em saber sobre seu processo de aprendizagem.
Estava ciente de que haveria uma palestra para falar sobre “filhos bem sucedidos” ou algo parecido, por conta do título da palestra: “Como Formar Filhos Vencedores”.
Confesso que fui à palestra movida pela curiosidade.
E, como nada é por acaso, enquanto assistia me questionava – o que é que estou fazendo aqui? Contudo, isto possibilitou algumas reflexões.
Sobre o Título: Como Formar Filhos Vencedores
1. O titulo que sugeria algo comercial na palestra realmente se confirmou, principalmente quando o palestrante, o Doutor palestrante (como se auto nomeou) sacou alguns livros para vender aos pais.
Fiquei observando a cena: a maioria dos pais presentes se interessaram em comprar os livros, imediatamente.
Algum problema nisto? Aparentemente não, porém fiquei pensando o quanto as pessoas estão interessadas em comprar conhecimento, literalmente.
Provavelmente, após o impulso inicial os livros permanecerão intactos, esquecidos em alguma gaveta ou enfeitando a estante.
Relação de Causa e Efeito
2. No decorrer da palestra o referido ia fazendo relações diretas, como por exemplo, se você agir assim o resultado será assado.
Para ser mais específica, teve uma ligação destas de causa e efeito que realmente me inquietou: “se você for agressivo com seu filho ele se tornará um babaca e não saberá se defender de outras pessoas semelhantes à você”.
Acredito que, possivelmente, ele estivesse falando de crianças de gerações passadas.
Pois, observo que as crianças de hoje reagiriam mediante ao abuso de poder do adulto e não se transformariam em “babacas”, assim como as crianças de gerações anteriores também não se tornaram “babacas”.
Sim, existem ações, como as agressivas, que podem gerar traumas, mas a forma como cada um vai lidar com a situação traumática será diferente, quando considera-se a personalidade.
Se estamos falando de pessoas, como pode haver uma regra que delimite o que o outro será? Até nas ciências exatas existem exceções!
Receita de Bolo para os Filhos
3. Foram apresentadas algumas receitas, semelhantes à receita de bolo:
Faça isto e o resultado será tal, não faça isto porque se fizer o resultado será desastroso.
Ao fazer isto entendo que nivela-se todas as pessoas, neste caso, crianças, olhando de modo superficial e genérico.
Acredito que cada pessoa mereça e precise ser tratada levando-se em consideração suas particularidades, suas necessidades, que são diferentes umas das outras.
Há momentos em que podem ser semelhantes, mas na maioria das vezes o que serve para um não necessariamente servirá para o outro.
Quando acontece este nivelamento subentende-se que a “receita de bolo” aplica-se a todos, sem exceção.
Minha avó fazia um bolo delicioso. Eu, usando os mesmo ingredientes e modo de fazer, ou seja, a mesma receita, não consigo fazer um bolo tão saboroso quanto ela fazia.
Se nem na culinária receitas contêm todas as nuances do processo, me questiono se darão certo com crianças.
Cada cliente que tenho possui uma história de vida diferente, com diferentes experiências, vivências e questões a serem elaboradas, necessitando um atendimento personalizado, criado especificamente para aquela pessoa.
Não existe receita de bolo!
Teoria versus Realidade
4. A palestra teve pontos interessantes, como chamar a atenção para algumas questões sobre saúde, alimentação e prática esportiva.
Na teoria, tudo sempre ou quase sempre parece tudo muito simples.
Mas, quando observamos o cotidiano de cada família podemos perceber que cada uma tem sua rotina.
E, as vezes, por mais desejo que se tenha, há fatores que impossibilitam a mudança, como por exemplo a relação com o tempo.
Hoje temos muito mais atividades do que há duas décadas, as crianças apresentam necessidades e também afazeres diferentes.
A meu ver, o grande desafio da atualidade é conciliar e agregar o bem estar dentro da realidade e estilo de vida das famílias, de forma prazerosa e conscienciosa.
É Possível Aprender a Dançar, Lendo um Livro sobre Dança?
5. Fiquei questionando o quanto as pessoas estão realmente dispostas a mudar.
Falo de mudanças internas, que se refletirão no externo e se efetivarão.
Há pessoas que querem mudar sem precisar alterar nada em suas vidas. Será que isto é possível?
Até pode ser, mas em pouco tempo tudo voltará a ser como antes.
Sabe fogo de palha, é esta imagem que me vem à mente.
Mudar algo em nossas vidas por mais simples que pareça, exige de nós comprometimento, disciplina e, principalmente, um forte motivo.
Não acredito em mudanças bruscas, mas sim em mudanças progressivas. Esta última sugere que estamos num processo contínuo.
E, quando esta é na alma, há um tempo de experimentação e de acomodação.
É um aprendizado subjetivo, que nenhum livro pode dar, mas sim o contato nas relações.
É como querer aprender a dançar lendo um livro de ballet ou de tango.
Culpa ou Consciência?
6. Não gostei da abordagem utilizada pelo palestrante para tratar do assunto e, no fim, vender livros.
Pareceu-me, mexer no inconsciente através de mensagens subliminares que tocam no que temos de mais nobre como pais: o desejo de oferecer o melhor a nossos filhos.
Deve até ter criado o sentimento de culpa em alguns pais:
Será que estou comprometendo o futuro de meu filho?
Fazendo algo errado, ou deixando de fazer algo necessário?
A emoção fala mais alto que a razão e, juntando-se com a facilidade de pagamento, compra-se por impulso.
Inquietação e Mudança
7. Minha última reflexão sobre este assunto é:
De que podemos, sempre ouvir coisas bonitas, novas, diferentes, podemos discordar de várias outras, mas tudo isto só terá sentido quando gera inquietação, questionamento e podemos escolher o que queremos colocar em prática.
Há sempre algo que permanece e pode gerar uma sementinha cheia de vida.
Eu já descobri qual é a minha e você pode descobrir a sua!
Que lindo ver você se encontrando, produzindo conhecimento e escrevendo tão bem. Adorei o texto o blog e principalmente saber que você está se desenvolvendo no caminho que escolheu.
Um grande Abraço!
Saudades!
Oi Raquel,
que bom receber seu comentário, fico feliz!!! Estou caminhando, pois acredito que nada vem pronto nesta vida, decidir compartilhar este caminho.
Também estou com saudades, precisamos combinar de nos encontrar!
Um grande abraço,
Olá Marcela!
Achei esse texto muito pertinente à realidade atual em que vivemos.
Uma avalanche de informação diariamente nos inunda de opções e possibilidades decisórias.
A máxima de “tempo é dinheiro” nunca foi tão verdadeira como agora. Não no sentido de fazer dinheiro, mas no sentido de ter tempo para si mesmo. Tempo se tornou uma joia preciosa.
Queremos mudar, sermos magros, estarmos em forma, mas não queremos mudar, viver uma vida saudável.
Quem nunca comprou uma daquelas revistas de R$ 1,99 após ver na capa em letras garrafais “Perdi 20kg em um mês sem dieta e sem exercícios!”?
Ótimo texto, continue assim!
Oi Henrique,
Queremos muito sem ou com pouco esforço, pouca mudança, mas se avaliarmos poderemos perceber o que a mídia incute a todo instante: que dá para conseguir o que queremos sem nos comprometermos conosco. O que talvez, a maioria das pessoas não prestou atenção ainda é que mágica é apenas um show de ilusionismo, e como o próprio nome já sugere é uma ilusão. Mas cada um vive do que quiser e, há momentos que a ilusão é mais amena que a realidade e um mecanismo de fuga.
Grata pela mensagem!
Oi, Marcela! Compartilho do seu desagrado, e o mais triste de tudo isso é que este tipo de abordagem não causa mais espanto em mim, de tanto que tem sido comum. Escrever e divulgar é um jeito de lutar contra, de “abrir os olhos” das pessoas. Afinal, colocam a subjetividade à venda e é como se nada estivesse acontecendo…
Oi Aline,
Foi por este motivo que decidi escrever. Acredito que precisamos estar atentos para este tipo de situação. Confesso que ainda fico espantada e um tanto incomodada! Chamar a atenção do outro, é o mínimo que dá para fazer, pois as vezes tenho a impressão de que algumas pessoas realmente querem e por isto acreditam que a subjetividade pode ser comprada, seja em forma de livros, brinquedos ou outros objetos que se adequem melhor ao que desejam. Contudo, tenho fé e esperança de que também existem pessoas que sabem que a subjetividade não está à venda no balcão das lojas, apenas precisamos nos organizar e nos unir para compartilhar aquilo que acreditamos. Se pensarmos que estamos sozinhos nesta empreitada, nossa caminhada será mais árdua, mas com apoio de pessoas que têm os mesmos ideais e de alguma forma se encontram, este caminhar se torna mais suave e energizante.
Muito grata pela contribuição,
abraços saudosos
Adorei a receita, muitosimples de fazer e ligeira! Vou preparar agora mesmo, depois relato aqui qual foi o resultado!