Muitas vezes nos queixamos dos atendimentos de serviços públicos, contudo o descaso para com o ser humano já chegou ao setor privado, de maneira sútil que, pelo menos aos meus olhos, não havia percebido com tanta clareza quanto ontem.
Passei mal e fui até um hospital da rede privada, ao chegar retirei minha senha, pois afinal de contas agora isto é moda …
… daqui a pouco precisaremos retirar senha até para fazer coisas corriqueiras e simples.
Mas afinal, após retira-la, fui chamada no primeiro atendimento, a triagem, que o próprio nome já diz muito ou quase nada, de acordo com o ponto de vista.
Fui informada pela enfermeira que a média de tempo para atendimento de baixa urgência era de aproximadamente 3 horas, que para minha triste surpresa se desdobrou em 4 horas.
Tentei dialogar com a mesma para entender o que classificaria o quadro de urgência e com atendimento prioritário, uma vez que a denominação pronto atendimento, sugere no meu entendimento, algo que seja rápido.
Até porque sempre me questiono cada vez que preciso ir a um pronto socorro, que as pessoas que lá se encontram, não estão lá a passeio e muito menos se sentindo bem.
Contudo, percebi que ela não estava muito aberta a conversar, ou deveria dizer a escutar.
Fico pensando na grande sabedoria que Rubens Alves proferiu, ao sugerir que as pessoas deveriam fazer um curso de escutatoria, mas talvez não chegou até os ouvidos destas pessoas, vai ver que elas não tiveram disponibilidade para escutar.
No meu âmago, a pergunta que não queria calar e sinceramente ainda não se calou:
- como é que alguém tem condições de pré-diagnosticar, se é assim que posso chamar, ou melhor, de dizer que a dor que o outro sente é ou não prioridade de atendimento?
Também entendo que todos que chegam num pronto socorro querem aliviar o mais depressa possível a sua dor.
E muito provavelmente a sua será maior que a do outro por inúmeras razões.
Porém, o que me indigna profundamente é a falta de humanidade, de amorosidade nas pessoas que se prestam a realizar trabalhos como este.
Recebi uma resposta padrão: o atendimento prioritário é para quem corre risco de vida, apontado por sinais vitais, tais como alteração da pressão arterial e febre.
Contudo, vi pessoas nestas condições e até com quadro clínico aparentemente muito piores, que estavam categorizadas com as famosas pulseiras seletivas verdes e outras pessoas tagarelantes ao celular, ingerindo refrigerantes e outras besteiras com pulseiras de prioridade.
Neste ponto falo do que vi e conversei com algumas pessoas.
Mas o que tento apontar aqui é o quanto a falta da escuta impossibilita a realização de um atendimento humanizado, impede a relação, mesmo que seja estritamente profissional.
Pacientemente, ou já não sei se teimosamente, esperei até ser atendida, sem haver uma senha que tenha sido chamada na sequencia uma única vez.
Quando entrei no corredor e procurava a sala da médica, acompanhada pela minha filha, a digníssima indicou me onde deveria entrar e pediu que eu a aguardasse lá.
Assim fizemos, até que a mesma resolveu vir atender-me.
Ao ouvir suas palavras iniciais, juro que imaginei que ela estava de brincadeira, mas não era.
Descaso? Talvez.
Eis que ouvi: é melhor o sua filha esperar lá fora, porque aqui ela corre risco de infecção.
Jamais vivenciei tamanha incoerência num único lugar!
Acho que a médica não analisou os fatos, a começar pela atitude dela mesma em pedir que a esperássemos, isto sem dizer do tempo que ficamos na recepção aguardando sermos chamados, local em que todos os pacientes se encontravam.
Minha indignação foi em grande parte mobilizada pela falta de sensibilidade dos profissionais.
Acredito que atualmente, as pessoas criaram uma barreira para se protegerem das demais, seja pela inabilidade de lidar com a dor do outro ou de simplesmente interagir, mas não percebem que com isto perdem infinitas possibilidades.
A capa protetora, por vezes se torna o isolamento, dando inicio a solidão.
Acredito que aquilo que não desejamos para nós não devemos fazer para os outros.
Esta máxima se aplica a nossa vida como um todo.
Por isto, convido-os a refletir se estamos fazendo para as pessoas algo que nos deixaria mal?
O bom é que ao percebermos isto, poderemos mudar conscientemente nossas atitudes e optar que elas sejam permeadas pelo amor universal, aquele que não espera nada em troca.
Boa reflexão!
Acredito…Ja passamos várias vezes pela mesma situaçãso.Não é sòmene no pronto socorro.de hospital privado, em consultórios de médicos conveniados é muito comum a espera de no mínimo 1 hora.Fazer o que? O que fazer? O meu consolo é que não preciso deles semanalmente e nem quinzenalmente… mensalmente?…. Ainda bem..
beijos
Oi Marcela!
Li o seu artigo. Tema bem atual e pertinente. No mundo atual, onde tudo é globalizado, parece que as pessoas já não se relacionam como antigamente. Naquele tempo em que eramos chamados pelo nome e não por um número. Tempo em que um aperto de mão iniciava e terminava uma conversa, onde o olhar para a pessoa era tão importante quanto olhar e conferir documentos. Concordo com a médica com relação ao risco de infecção hospitalar ser maior para as crianças que naturalmente possuem uma baixa resposta imunológica. Mas o alerta deveria ser dado na sala de espera e não depois de 04 horas de contato com vários tipos de doenças, tão comuns nas emergências e urgências.
Apenas gostaria de fazer uma pequena crítica ao texto, que serve mais como um esclarecimento. As funcionárias que ficam nas recepções de clínicas, consultórios e hospitais, não são ENFERMEIRAS. Muitas vezes são meras atendentes de recepção com treinamento basicamente burocrático. Em outras situações são auxiliares ou técnicos de enfermagem (estes últimos, mais raramente, visto ser um desperdício de mão de obra qualificada). Infelizmente algumas instituições padronizam o uniforme branco para várias categorias, levando a erros de identificação. A maior parte, felizmente, opta por fardamentos diferenciados.
Boa tarde Teresa,
tudo bem?
Fico grata com o seu comentário. Neste hospital citado, antes de preenchermos a ficha, somos “examinados” – temos a temperatura e a pressão mediddos e relatamos os sintomas. Por este motivo acredito que tais profissionais sejam enfermeiros ou, como você bem lembrou, auxiliares e/ou técnicos de enfermagem, mas independente do que sejam, considero-os pessoas que escolheram trabalhar na área da saúde.
E, quando decidi escrever sobre o que aconteceu, foi com o intuito de também e talvez principalmente chamar a atneção dos profissionais em geral da saúde, para que possam refletir sobre sua prática. Sei que muitas vezes somos compelidos a seguir as normas do local de trabalho e não há muito espeço para fazer algo diferente, contudo acredito que se as pessoas se dispuserem a ouvir empaticamente, assim como era antigamente, por mais que tenhamos que esperar o atendimento, este possa ser mais humanizado.
Também agradeço as sugestões,
Um forte abraço pra vocês tmabém!
Gostaria ainda de acrescentar que sei que o sentimento de frustração é real e vale a comunicação escrita. Se possível encaminhe a mesma para o local onde ocorreu o desconforto e angústia. Caso não tenha uma ouvidoria, deve haver algum setor para comunicar tais ocorrências. Muitas vezes a administração geral por desconhecer tais fatos, não providencia treinamentos ou orientações aos seus funcionários.
Um forte abraço a todos vocês.
Teresa Cristina.