Resgatar o significado e contextualizar aquilo que foi banalizado, subjugado e desmerecido é importante para entender o comportamento das pessoas diante de eventos, tais como o carnaval.
Afinal, o que é o Carnaval?
A palavra carnaval teve sua origem no latim “carnis valles”. “Carnis” significa carne e “valles” prazeres, ou seja, prazeres da carne.
O carnaval é uma festa que se originou na Grécia, por volta dos anos 600/520 a.C., no qual os gregos realizavam cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo, pela produção e pela colheita.
A festa carnavalesca foi adotada pela Igreja Católica em 590 d.C., a partir da implantação da Semana Santa.
Por isso, o carnaval é comemorado 40 dias antes da Páscoa, período denominado Quaresma, que indica quarenta dias de jejum, principalmente, com abstinência da carne.
No inicio, a festa tinha como objetivo comemorar e agradecer a fartura.
Com a igreja incorporando-o, o carnaval adquiriu outro sentido: purificar o corpo/mente dos excessos cometidos.
O longo período de privações marcado pela Quaresma, acabou incentivando os festejos carnavalescos, sendo o carnaval também marcado pelo “adeus à carne”.
A Representação do Carnaval do Ponto de Vista Psicológico
Do ponto de vista psicológico, toda situação que pressupõe a falta de algo, gera a necessidade de guardar, estocar, fartar-se, muitas vezes levando ao exagero.
Por isto que a terça-feira de carnaval é chamada de terça-feira gorda ou mardi gras, como se diz na França.
Também pode-se pensar nesta questão em termos de polaridades: excesso / falta, uma como complemento da outra, a fim de restaurar o equilíbrio.
Durante o período do carnaval havia uma grande concentração de festejos populares. Cada cidade brincava a seu modo, conforme com seus costumes – um habito que se perpetuou.
O Carnaval Moderno e seu Desdobramento Sócio-psíquico
O carnaval moderno é produto da sociedade vitoriana do século XIX, sendo Paris o principal exportador da festa carnavalesca para o mundo, inclusive para o Rio de Janeiro.
Contudo, foi esta última quem criou o estilo carnavalesco com desfiles de escolas de samba.
Desde o inicio, o carnaval pressupõe a busca incessante dos prazeres, associado à liberdade, à alegria, à comida e à bebida.
Tomemos como exemplo a Roma Antiga, onde as atividades e negócios eram suspensos, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que quisessem e as restrições morais eram relaxadas.
Este aspecto eternizou-se no inconsciente coletivo, ganhando proporções ligadas à exposição do corpo e à sexualidade a flor da pele como representação dos prazeres carnais.
O inconsciente coletivo é a camada mais profunda da psique. É constituído pelos materiais que foram herdados.
Estes materiais foram denominados por Jung de arquétipos.
Os arquétipos não são observáveis em si, mas através das imagens que eles proporcionam.
No entanto, o inconsciente coletivo precisa de experiências reais para poder se manifestar.
Jung, chamou a atenção para o fato de que o inconsciente coletivo retém informações arquetípicas e impessoais.
Seus conteúdos podem se manifestar nos indivíduos, da mesma forma que também migraram ao longo do tempo e do desenvolvimento da vida.
Para finalizar, se considerarmos a repressão sexual expressa pela Igreja, o carnaval é o momento em que as pessoas opõem-se a isto.
Ganha forças através do coletivo, no qual a pessoa perde temporariamente sua identidade individual. E, vale-se da identidade grupal, associada ao uso de fantasias e máscaras, permitindo que a maioria dos foliões deem forma à sua imaginação e àquilo que está no inconsciente.