Vem chegando o verão um calor no coração…
E uma obsessão na mente: a busca desenfreada pelo corpo perfeito.
Nesta busca vale tudo, tudo mesmo!
Desde dietas hediondas que prometem, num passe de mágica, emagrecer muitos quilos em pouquíssimos dias, a medicamentos usados indiscriminadamente e até recorrer a clínicas de estética clandestinas.
Essa magia colorida …
Parece-me que a estação mais colorida do ano, perde toda a cor e torna-se cinza pelo simples fato de não ter o corpo dos sonhos e não aceitar o corpo real.
Para compreendermos um pouco mais, há alguns pontos para refletirmos:
O corpo real de hoje é conseqüência dos nossos atos passados e do próprio presente.
Quando o verão se aproxima, parece que o cérebro muda o canal e entra na freqüência da baixo-estima propagada pela mídia através da supervalorização do corpo quase esquelético das modelos e atrizes.
A mudança do canal é muitas vezes inconsciente e até inconsequente.
Não há problema algum em querer manter a forma física, emagrecer um pouco, mas tudo dentro das possibilidades reais, considerando o seu biotipo físico, seu histórico corporal e ascendência familiar, entre outros aspectos.
Coisas da vida …
Passa-se a maior parte do ano ingerindo indiscriminadamente, não só alimentos, mas pensamentos e emoções que descem goela abaixo, sem nem sequer saborear o que engole.
As roupas ficam um pouco mais justas, apertadas, mas no inverno usa-se muitas roupas – peças sobre peças e geralmente não se observa o que está acontecendo com o próprio corpo.
Então de repente na estação “todas de bundinha de fora…”, as pessoas não se reconhecem e se espantam com as próprias formas do corpo e como num passe de mágica desejam ser como eram antes. Eu pergunto: antes do que? Ser como?
Talvez o corpo esteja sinalizando que outros aspectos, tais como o emocional e o psicológico não estejam tão bem quanto se pensa e precisa ser olhado, ser percebido e com atenção, pois o corpo físico expressa a somatização destes estados.
A massa corporal, ou seja, a atual forma chegou primeiro na mente e nas emoções e por último se materializou no corpo físico.
O corpo é grande fonte de expressão, porém na maior parte das vezes, olham-no apenas como algo físico.
O dia inteiro de prazer…
Prazer em que?
Em ficar com fome, em passar mal para obter um corpo idealizado, irreal?
Ou o prazer em aceitar-se como é, contextualizada em sua história de vida, em seu cotidiano, em perceber a harmonia de suas formas, em alimentar-se sem culpa, sem receios, em exercitar-se para ter saúde, em fazer escolhas conscientes, em sentir-se bem e feliz pelo que você é?
Penso que o prazer nesta instância esteja em perceber que não existem corpos perfeitos, mas que dentro da harmonia corporal possa encontrar a perfeição da tua existência.
Esta harmonia remete a correspondência entre o estado interno e a situação externa e na expressão livre de padrões e pré-conceitos.
Os corpos sugeridos pela mídia criam, subliminarmente, a ideia de cultura de massa, invadindo a vida privada das pessoas, impedindo-as de se expressarem, restando apenas à identificação com os seres apresentados.
Contudo, isto age como gerador de diversos distúrbios psicoemocionais, pois priva as pessoas de sua autenticidade, do poder de criação, de expressão, daquilo que as tornam únicas e belas.
Lowen cita Sandor Rado em sua afirmação de que ‘prazer é o laço que une’ e complementa que “o prazer nos une aos nossos corpos, à realidade, aos amigos e ao trabalho”.
Enquanto a mídia enfraquece o laço e reforça a cisão entre o ser e o ter, o emocional e o físico, dando a conotação de que aspectos aparentemente opostos não convivem juntos.
A harmonia e a beleza da vida está justamente em integrar os opostos e na percepção de que são complementares.
E Lowen vai além ao questionar: “se o cotidiano traz prazer, para que escarpar?”
OBS.: Esta reflexão começou quando, por estes dias, ouvi a música Uma noite e Meia de Prazer, composta por Marina Lima e comecei a pensar sobre as possíveis mensagens contidas nesta letra.
Bibliografia
Lowen, A. Prazer – uma abordagem criativa da vida, Ed. Circulo do Livro, São Paulo, 1970.
Lima, M. Uma noite e meia de prazer.
Excelente texto Marcela! Peço permissão para trabalhar este texto com meus alunos do Ensino Médio,pois neste bimestre estou ensinando cultura de massas…
um abraço e saudades
Oi Aline,tudo bem?!
Fico muito feliz e grata com o seu comentário! E mais ainda por ele te ajudar em seu trabalho. Claro que pode utilizá-lo. Gostaria apenas que você mantivesse a autoria e se possível a indicação do blog.
Também estou com saudades … espero que uma hora dê certo de você vir para São Paulo passear.
beijos